Confira o que a ciência diz sobre a liberação da máscara
A diminuição do número de casos de covid-19 nos registros oficiais, sem considerar subnotificações, é uma realidade em todos os estados brasileiros. O último boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do dia 25 de março, mostrou que, pela primeira vez desde julho de 2020, os leitos de UTI do país estão “fora da zona de alerta”.
A Fiocruz sinalizou, no documento, um “cenário de otimismo, com taxas abaixo de 60% em todos os estados brasileiros”.
Os pesquisadores do Observatório Covid, contudo, chamaram atenção para o fato de as taxas de Síndrome Aguda Respiratória Grave e de mortes provocadas por covid-19 ainda serem “significativas. Ou seja, é tempo de um otimismo ainda cauteloso, e o debate sobre as máscaras tem a ver com esse clima.
O consenso científico em liberar o uso de máscara “não existe”, afirma a infectologista e pesquisadora de Fiocruz, Fernanda Grassi.
“Nesse momento, temos uma situação de maior controle. Acredito que pode haver uma discussão para flexibilizar, em locais abertos sem aglomeração. Mas essa medida precisa ser tomada pelos órgãos, com base em dados, não individualmente”, defendeu.
A pesquisadora defende que, independentemente do estado ou cidade, a decisão de desobrigar o uso de máscaras deve começar por locais abertos. A possível evolução de casos deve ser acompanhada de perto, pois existe uma preocupação de que uma nova onda de infectados pelo coronavírus surja, como ocorreu em parte da Europa.
Em fevereiro, países europeus chegaram a liberar completamente o uso da máscara, inclusive para pessoas infectadas pelo coronavírus, como na Inglaterra.
O resultado foi um aumento de 27% a 33% nos casos de covid-19 em países como a Suíça, Reino Unido, Áustria, Alemanha, Itália, Holanda e França, de acordo com dados do Our World in Data.
O incremento do número de pessoas doentes reacendeu o alerta sobre o Brasil. Para Grassi, o crescimento de casos na Europa pode ter ocorrido pela “precocidade da medida”. Na Bahia, 50% da população está vacinada com as três doses contra a doença. O maior pico de novos casos, durante a pandemia, aconteceu no dia 3 de fevereiro, com 15.536 notificações.
“Nós podemos pensar em liberar a máscara porque se mantém a diminuição, isso para pessoas com esquema vacinal completo”, disse Grassi.
Pessoas imunossuprimidas, que possuem alguma doença autoimune ou estão em tratamento contra o câncer, com esquema vacinal e completo e idosas devem apostar no uso de máscara quando a liberação de máscara ocorrer. “O vírus ainda está circulando. Mesmo liberadas, essas pessoas deveriam usar”, explicou a médica.
Nas ruas, rostos descobertos
Desde o início da pandemia do coronavírus, mais de um século depois, o uso da máscara é obrigatório no Brasil, embora nem sempre seja uma medida cumprida. Em Salvador, onde o uso de máscara ainda é obrigatório em locais abertos e fechados, a flexibilização do uso do equipamento é percebida cotidianamente, das praias aos estabelecimentos comerciais.
Os rostos são descobertos, às vezes, em decisões individuais. Em Itanagra, no centro-norte da Bahia, antes da flexibilização do uso, já era possível encontrar uma maioria sem o equipamento. Vivem no município 8 mil pessoas, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Prefeitura de Itanagra desobrigou o uso de máscara em ambientes abertos no dia 14 de março. Naquele dia, o município tinha três casos ativos de covid-19, todos quadros leves da doença. Lá, a fisioterapeuta Angélica Silva, 21, sente-se confortável em não estar sempre de máscara. Hoje, acredita que a situação epidemiológica da cidade permite. Ela só utiliza o item quando é obrigatório.
“Uso em local fechado, por conta do decreto. Não estamos correndo muito risco, trabalho na área de saúde e não vejo pessoas com sintomas. Os que existem, ficam em quarentena”, conta.
Em Praia do Forte, parte litorânea do município de Mata de São João, a maioria das pessoas também circula sem máscara, como previsto por decreto. “Muitos já não usavam”, diz Rosa Ferreira, 50, que trabalha como caseira em casas luxuosas da região. Ela diz que prefere não arriscar, ainda não se sente segura, e como a minoria se protege, o clima de insegurança é maior, para ela.
Na cidade, há quatro casos ativos notificados da doença, há dois meses, eram 40, segundo o boletim oficial. Rosa fica ansiosa com a possibilidade de, em breve, as máscaras serem dispensadas inclusive em lugares fechados, mas espera que a terceira dose a proteja.
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