Economia

Consumidor precisará desviar preços para garantir mesa junina

Após dois anos de restrições por causa da pandemia da Covid-19, os festejos de São João voltam a animar os baianos e as expectativas de uma mesa farta com os pratos típicos da época crescem. Mas, para saborear a comida junina, os consumidores terão que enfrentar os altos preços. Já do outro lado da moeda, comerciantes buscam estratégias para não perder os clientes por conta da inflação.

O especialista em finanças e doutor em economia, Antonio Carvalho, 49, explica que para evitar os preços altos dos produtos juninos o consumidor deve usar as tradicionais estratégias: “pesquisar o máximo, buscar as feiras livres, centros de distribuição. Além disso, se possível, buscar as associações, cooperativas, grupos de produtores e agricultores familiares para comprar na origem, substituir e reduzir o consumo dos produtos que persistirem com preços mais altos”. 

O economista orienta também que os comerciantes tenham cautela ao comprar mercadorias para evitar repassar custos elevados para o consumidor e correr o risco de perder vendas e amargar prejuízos. “Os comerciantes devem pesquisar,  barganhar preços e buscar fornecedores que ofereçam melhores condições. Uma opção para feirantes e pequenos comerciantes é realizar compras coletivas, ou seja, unindo-se a outros comerciantes para compra de maiores volumes e aumentar o poder de barganha com os produtores e/ou distribuidores”, aconselha Carvalho.

Na Feira de São Joaquim, a dona de casa Regina Menezes, 42, se assustou com o preço dos alimentos. Ela comprou por R$ 10,00 amendoim e considerou o preço caro, principalmente por lembrar de períodos em que pagou mais barato pela iguaria que é comum em qualquer ‘arraiá’.

Antes da pandemia

“Tá tudo caro. Antes da pandemia, os preços eram melhores, mais acessíveis. O amendoim, em 2019, estava mais barato. Eu não me recordo exatamente por quanto comprei na época, mas sei que passou longe de R$ 10,00. As coisas estavam mais em conta”, desabafa Menezes.

Caso os alimentos continuem com o custo alto, Regina ressalta que na mesa de comemoração aos festejos juninos muitos pratos típicos vão ficar de fora. “A expectativa é que muitas iguarias não entrem no cardápio este ano. Do jeito que a economia está, a prioridade é ter o básico”, analisa a dona de casa.

Quem também achou exorbitantes os preços dos produtos foi a professora Thamires Almeida, 32, que pode deixar de fazer a tradicional farofa baiana no almoço de São João por causa do valor da farinha.  “Antes eu comprava farinha ‘da boa’ por R$ 5,00. Agora eu compro por R$ 7,00 ou mais. Não sei como vão ser os festejos juninos, pois tudo tá caro”, diz Almeida.

Neste mês de maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,59%, a maior alta para o período desde 2016 (0,86%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento  do custo de vida, de acordo com  Antônio Carvalho, tem influência do valor do dólar e dos combustíveis. 

“A alta do dólar torna as exportações vantajosas, pois para o produtor e para a indústria, é melhor exportar e ganhar mais. Por isso, quando vendem para o mercado interno, vendem mais caro. Já as sucessivas altas nos preços dos combustíveis funcionam como gatilho da inflação. A maioria absoluta dos produtos utiliza combustível para ser produzido, sendo assim o custo é incorporado”, explica o economista.

Na hora da compra

Nesse cenário, os comerciantes também sofrem, seja no momento de comprar o produto caro para repassar para o consumidor final ou no de fazer estratégias comerciais para não perder o cliente pelo preço alto e também não ter prejuízo por vender a mercadoria por um valor baixo. 

Esse é o caso do feirante Antônio Fernando Reis, 54, que trabalha com a comercialização de milho, produto que segundo o IPCA de abril, nos últimos 12 meses alcançou a variação acumulada de 21, 14% no país.

O valor dessa iguaria subiu 2,08% no mês passado. Reis, que trabalha há 30 anos como comerciante, já sente os efeitos da alta..  Em anos anteriores, ele pagava cerca de R$ 30 em um grande saco com milho para revender. Atualmente, esse valor mais que dobrou. “Eu vou comprar no interior para vender aqui. Lá em Irecê e Santo Antônio de Jesus, estou pagando entre R$ 60 e R$ 70 no saco”, afirma Reis.

Na roleta dos altos preços, o feirante repassa um saco com milho por R$ 80 e diz que a margem de lucro é pouca, mas teme aumentar mais o preço, uma vez que a inflação está alta e afetando o custo de vida da pessoas, que priorizam, neste momento, o básico para viver.

“Nós, comerciantes, apesar de sofrer com os aumentos, não podemos elevar muito o custo para o consumidor final, pois eles não compram, o que gera um grande prejuízo”, diz Reis.

No mesmo dilema, está o vendedor de amendoim Jorge dos Santos, 60, que conta que a saída do produto tem sido baixa, apesar de fazer um esforço para não vender a iguaria por um preço alto. “Estou vendendo por  R$ 5 a vasilha pequena e de R$ 10 a maior. O preço ainda está regular, mas a depender da oferta, pode aumentar muito na época junina, mesmo assim as pessoas não estão comprando”, lamenta Santos.

Apesar das vendas não estarem boas agora, Jorge acredita que nos festejos de São João as coisas podem melhorar. “A expectativa é que o amendoim seja bem vendido, pois é um produto típico da época. Eu estou torcendo que a oferta seja grande, assim o preço do produto não sobe muito para os feirantes ou  consumidores”, pondera. 

Outro produto que não está na fase das melhores vendas é o aipim. Isso é o que diz o comerciante Jorge Luz, 55. No quilo, a iguaria está saindo por R$ 3,00, preço que o comerciante considera razoável, mas que vai aumentar no período junino. 

“O aumento vai ser pouco, apenas R$ 1,00. Antes da pandemia, a gente comprava um saco de aipim por R$ 30, agora está por R$ 40. Por isso, na demanda junina, o valor aumenta um pouqinho”, esclarece Luz.

Quem é adepto de um bom licor também terá que enfrentar a inflação. A bebida, que já foi vendida por R$ 12 para o revendedor José Marcelo Andrade,  agora está custando R$ 17,5, isso se for o tradicional, o cremoso, por sua vez, está por R$ 18,5. Para conquistar uma margem de lucro, o comerciante diz que está vendendo os licores naturais por preços que variam de R$ 20 a R$ 22. Já os cremosos chegam a até R$ 25. Os preços de revenda não somam um grande ganho para Andrade.

“Os custos de produção e transportes aumentaram bastante e o lucro dos comerciantes diminuiu. O reajuste que a gente faz não altera muita coisa, mas as pessoas estranham o preço, principalmente aqueles que nunca consumiram o produto. A cartela de clientes não se assusta , pois sabe que o reajuste é mínimo”, diz Andrade.

Fonte: R7

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